quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Há vida fora da tela - por Gisele Manhães


Olá mamães,

Minha querida amiga e irmã em Cristo, Gisele Manhães, já compartilhou conosco como ela criou as Quintas em família para aproveitar melhor o tempo com seus filhos, já maiorzinhos. 

E hoje, ela nos prestigia com um texto maravilhoso! Uma reflexão superatual e com ideias bem práticas para ajudarmos nossos filhos a deixarem as telas um pouco de lado. São dicas preciosas, especialmente para quem tem filhos que já não são mais crianças que espalham brinquedos pela casa toda - o que, como falei no meu último texto, é a minha solução para desplugar a galerinha lá de casa.

Que o Senhor nos ajude e também aos nossos filhos a aproveitarmos ao máximo a vida que Ele nos deu!!

Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem; que não seja como insensatos, mas como sábios, aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus.
Efésios 5:15 e 16

Um beijinho,

Da mamãe do Gabriel e da Alice


E agora com vocês: A mamãe do Ricardo e da Anna.


Há vida fora da tela

Minha filha apareceu em casa com uma nota horrível em ciências e, para ajudá-la a se recuperar e, ao mesmo tempo, mostrar para ela que tudo tem consequências, decidi, entre outra coisas, tirar-lhe o celular.


Ela é uma ótima menina e não se sentiu injustiçada nem coisa do tipo. Compreendeu que era para o seu bem. Ficou tranquila por um tempo. Mas, teve um dia em que ela não se aguentou, disse não haver mais graça em sua vida. “Minha vida acabou!!”, declarou ela do alto de seus treze anos.

Contrargumentei que a vida não se resumia a selfies e redes sociais, e que sua declaração só confirmava o papel central que o celular tinha assumido em sua rotina, e que “isso não pode ser, né, filha...”

Então ela me desafiou, mesmo sem ter tido a intenção... Ela me perguntou o que lhe restava para fazer da vida além de estudar e ver TV...

Fiquei pensando, pensando, pensando... E foi difícil responder... E olha que eu me considero uma pessoa criativa... Realmente, nesses tempos de hoje nossa vida tem se reduzido a uma rotina de estudo, trabalho, celular e televisão ou computador. Não conseguimos vislumbrar nada muito além disso. Parece que nossa existência se resume a isso. As crianças e adolescentes já não brincam mais de correr, de pique, de bandeirinha. Descem para o play para tirar selfies e postarem coisas nas redes sociais...

Acontece que não temos passado a nossos filhos certos conhecimentos. Conhecimentos que hoje em dia já não se consideram importantes. Na verdade, alguns deles são até vistos como irrelevantes ou inferiores.

Dei-me conta, por exemplo, de que meus filhos não sabem fazer algo tão simples como embrulhar um presente... “Ah! Mas isso não é necessário, há pessoas em lojas que fazem isso. Não temos mais tempo para isso.” Claro!! Vivemos noite e dia em prol do trabalho formal. Já não vemos graça nem necessidade nas pequenas coisas do dia a dia...

Sabe o que estamos fazendo? Estamos terceirizando tudo!! Nossos filhos não levarão adiante o legado de nossas famílias, acumulado em décadas de conhecimento passado por tradição, isto é, conhecimento que não se ensina em escolas nem se aprende formalmente. Coisas que aprendemos com nossas mães, pais e avós. Receitas de família, bordados, o jeito de fazer as coisas, o pulo do gato. Como se descasca um legume, como se limpa um banheiro, como se estende uma roupa no varal, como se troca uma lâmpada, como se fura uma parede ou se troca um pneu, como se passa uma roupa, como se tempera um feijão, como se faz uma bainha...São coisas tidas como ultrapassadas, as quais nossos serviçais devem fazer por nós.

É! Mas se – Deus o livre – um dia, nossos filhos precisarem pregar um botão? Ou fritar um ovo? E se – bate na madeira e dá três pulinhos – um dia nossos filhos não forem bem-sucedidos profissionais liberais cercados de lacaios por toda parte? O que será de suas vidas? E se – vai que – esses pequenos e inúteis conhecimentos foram capazes de lhes trazer um imenso prazer e senso de capacidade e realização?

Irônico pensar que, nesse momento em que se cunha o verbo empoderar, estejamos, na verdade, desempoderando nossos filhos. Eles falam Inglês, Espanhol e Mandarim, mas não sabem lavar um tênis... Eles fazem cálculos e resenhas, mas não conseguem fazer sua própria cama.

Queremos tanto que sejam independentes, no entanto, ao negligenciarmos a transmissão de certos conhecimentos – aos quais, quero destacar, eles têm direito – relegamo-los a eterna dependência do outro. E, como bônus, contribuímos com a ideia de que sejam conhecimentos menores, para seres “inferiores” os realizarem.

Não!! Não quero isso para meus filhos... Não quero que seu mundo gire em torno de uma tela!!

Quero que levem adiante aquela carne assada maravilhosa com as batatas coradas que minha mãe fazia e me ensinou. Embora ela mesma não esteja mais aqui, sua carne continua fazendo o maior sucesso!!

Estou listando coisas (pois adoro uma lista) que gostaria de fazer com meus filhos para lhes mostrar que a vida vai além de um retângulo reluzente com falsas pretensões sociais. Pensei em algumas:

1) Pintar junto: engraçado como aqueles livrinhos de pintura ficaram na moda. Já saíram, porém. Tudo hoje é muito fugidio e entra e sai da moda na velocidade de um clique... Não tô nem aí...vou ressuscitar o livro, comprar uns lápis e retomar a atividade. Vai ser uma boa chance de conversar, rir e contar piadas. O que me leva ao próximo item da lista...

2) Contar piadas e “causos”: é sempre bom treinar a conversação e a narrativa oral (que parece estar morrendo com o advento das novas mídias). Minha família sempre foi celeiro de causos: meu pai, meu avô e meu marido são grandes contadores de história. Isso não pode morrer... Mas... de repente... para dar um ar de novidade à arte milenar de contação de histórias, vou filmar e pedir à galerinha que edite um vídeo bem legal!!!

3) Cozinhar junto: a arte de picar, descascar, temperar é maravilhosa. Temos que perpetuar isso. Afinal, quando eu envelhecer, quero que me levem comidinhas caseiras bem gostosas, que me façam lembrar minha infância; é o famoso conceito de memória gustativa...Coisa chique!! Nada de lasanha da Sadia!! Uma vez por semana, então, quero poder compartilhar receitas de família com eles!!!

4) Jogar um jogo: sei lá, um quebra-cabeças, um ludo, uno, até dominó tá valendo para manter a turminha juntinha.

5) Treinar habilidades manuais: encapar um livro, embrulhar um caderno, customizar uma agenda, uma blusa, pintar uma tela, costurar uma almofada, criar uma fantasia e depois até inventar uma festa temática...

6) Fazer alguma atividade outdoor: andar de bicicleta, caminhar, jogar queimado, brincar de pique-esconde, polícia e ladrão, ir à piscina ou praia, fazer um convescote – ou piquenique!!

7) Descansar!! Porque se até Deus descansou no sétimo dia, eu acho que também posso!!

Nossa!! Quanto coisa se pode fazer, hein...Até eu fiquei surpresa e pensando o quanto tudo isso nos faz sentir vivos!!

Há tanta vida lá fora!!

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